Ser policial militar é muito mais do que usar uma farda. Para nós, mulheres, é também enfrentar preconceitos, superar barreiras e provar, dia após dia, que nossa força não está apenas nos braços, mas principalmente na mente e no espírito. Minha carreira como policial começou com um sonho e muitos medos. Foram 10 anos tentando conquistar. A cada edital e a cada etapa da formação, eu era desafiada a ir além dos meus limites – mentais e emocionais. A parte física nunca foi problema pela minha formação acadêmica e pelo estilo de vida desde criança. Não houve um dia em que tive dúvida do que eu queria ou estava ali fazendo. Mas os problemas começaram depois de formada, quando escolhi algo que muitos dizem não ser para mulheres: escolhi trabalhar nas motos.
No início, enfrentei olhares desconfiados e preconceituosos, comentários desnecessários e até mesmo a solidão de ser uma das poucas mulheres num tipo de policiamento que sempre excluiu mulheres. Mas, conforme o tempo passava, fui ganhando meu espaço e, principalmente, meu orgulho, criando laços com profissionais de verdade que não ligavam para o gênero, mas sim para a profissional dedicada e curiosa. Mas o que me fazia continuar era quando eu estava no patrulhamento e via uma pessoa com olhar de alegria e espanto dizendo: “Nossa, uma mulher na moto, que legal, parabéns!” ou mesmo uma criança falando: “Olha, mãe, ela é policial, mulher e de moto!”. Isso era satisfatório e sempre alegrou muito meu coração; cada sorriso recebido me mostrava que escolhi o caminho certo. Recebi muitos “não” de pessoas que não me conheciam, mas isso não me impediu de continuar sendo quem sou.
Nunca tive medo de desafios ou de conhecer outras modalidades de policiamento, e assim fui mudando de batalhão em batalhão, conhecendo outras modalidades, aprendendo e conhecendo outros profissionais que muito me agregaram, até chegar ao meu batalhão atual, onde estou muito feliz e a cada dia aprendendo mais. Porém, nunca satisfeita, querendo sempre absorver mais e fazendo sempre o meu melhor. E que novos desafios venham, porque um policial está sempre preparado para isso. Como dizemos: “Não sei fazer, mas me dá cinco minutos que eu descubro, aprendo e faço”.
Lembro-me de uma vez em que ouvimos na rede rádio um acompanhamento a um veículo roubado que havia colidido com uma moto, e a vítima estava em estado gravíssimo. Foi necessário apoio do Águia (helicóptero da PM) para conduzi-la ao hospital. Porém, o pouso não podia ser em qualquer lugar, e aí tivemos que fazer o deslocamento da vítima até o ponto ideal de pouso, e paramos o trânsito de um bairro inteiro para abrir caminho, para fazer o trajeto seguro e o mais rápido possível. Na ânsia de fazer meu melhor e ajudar a salvar aquela vida, precisei manter a frieza mesmo com o coração acelerado. Nessas horas, o treinamento fala mais alto, e o entrosamento com o parceiro é fundamental, mas é a consciência do nosso papel social que guia cada decisão. Por coincidência, quem estava lá em outro helicóptero, observando nosso trabalho, era o Comandante Geral da PM na época, e recebemos elogios dele.
Nossa mente está ocupada em fazer o melhor, porém olhos sempre nos veem quando estamos fardados; somos referência, observados, analisados e julgados. O que eu posso dizer aos meus colegas de trabalho: façam o seu melhor, independentemente de quem esteja ali sendo socorrido, atendido ou orientado, porque o respeito, a admiração e o agradecimento sempre virão. Se você, irmão de farda, policial em formação ou cidadão comum, duvida do impacto do nosso trabalho, olhe nos olhos de quem já foi salvo por uma ação policial. Ali está o verdadeiro valor da nossa profissão.
Ser policial é um ato diário de resiliência, é aprender a ser forte sem deixar de ser sensível, é equilibrar técnica e compaixão, autoridade e empatia. E se você, mulher, sonha em vestir essa farda, saiba: é possível, é digno e é transformador. A polícia não é feita apenas de viaturas e ocorrências. Ela é feita de gente. E quanto mais próximos estivermos da comunidade, mais forte será esse elo. Seguimos firmes, com o peito aberto e a cabeça erguida, porque ser Policial Militar é, acima de tudo, um ato de amor e, para nós, mulheres, um ato de resistência.